Para um multiculturalismo democrático: aspectos da cosmopercepção iorubá no Candomblé Ketu
Universidade Federal de Rondonópolis
RESUMO
A questão na qual nos debruçamos neste capítulo diz respeito à compreensão do Candomblé Ketu como uma instituição que faz a guarda e a difusão de determinados valores, saberes e práticas originárias dos povos iorubás em solo brasileiro. Propomos uma análise de caráter introdutório em torno de certos mitos dos/as Òrìsà, denominados ìtàn, e sobre os odú, que são os poemas revelados por meio da consulta ao oráculo de Ifá, a serem interpretados pelo Babalaô, na tradição originária iorubá, ou pela ìyálòrìsà ou bàbálòrìsà, como se dá comumente no Candomblé no Brasil. Podemos observar que há alterações nos ritos praticados outrora no Continente Africano e aqui no Brasil, ao se considerar as condições desumanas às quais os/as africanos/as foram submetidos/as, enquanto escravizados/as, acrescidas ao contato com os habitantes originários da floresta: os/as indígenas, em suas perspectivas múltiplas relacionadas com o sagrado e a natureza, além das variações ligadas às localidades na realização dos ritos. Contudo, ao nos debruçarmos sobre os ìtàn e os odú, tem-se o pensamento milenar iorubá transplantado para o Brasil nos termos do Candomblé de Ketu. Para esta análise, realizaram-se entrevistas com a Ìyálòrìsà Márcia Ty Òṣun e com o ̣ Bàbálòrìsà Fábio Ty Òṣọ́ ọ̀ si do ̣ Ilê Erô Opará Ofá Odé Asé Jaynã1 (MT), cujos saberes e práticas discutem a temática em questão. Discorremos, também, sobre o acesso feminino ao conhecimento de Ifá e à revelação oracular, sob a concepção da socióloga nigeriana Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí. Trata-se, portanto, da pretensão de estabelecer um diálogo entre a Ìyálòrìsà Márcia e Oyěwùmí com o intuito de caracterizar a cosmopercepção iorubá em suas práticas percebidas entre Brasil e Nigéria.