Feminismo negro e a crítica à cultura brasileira
Universidade Federal de Mato Grosso
RESUMO
No desenvolvimento do presente verbete, discorre-se sobre os conceitos de cultura, identidade e estereótipo a fim de trazer à tona tanto os prejuízos causados pelo trânsito das representações insuficientes e equivocadas das mulheres negras no meio social, quanto à resistência expressa por meio das nomeadas entidades culturais de massa. Para tal, lança-se mão, principalmente, dos escritos de Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez, Neusa Santos e Sueli Carneiro, que estarão em diálogo com Abdias do Nascimento, Stuart Hall e Kabengele Munanga, com especial atenção às abordagens críticas da cultura elaboradas pelo pensamento feminista negro no Brasil. No que se refere à participação dos autores supracitados nesse verbete, cabe destacar o reconhecimento por parte de representantes do feminismo negro das vozes intelectuais singulares masculinas, que se erguem no enfrentamento ao racismo e em prol do estabelecimento da equidade nas relações sociais. Em seus escritos, Lélia Gonzalez, por exemplo, apresenta reverência à luta empreendida por Abdias do Nascimento, além de denunciar o não reconhecimento do mesmo em meio ao seu grupo étnico-racial e à classe intelectual branca. Em uma nação, onde o racismo por denegação opera no imaginário da população, a cultura das massas populares é subestimada pelo olhar míope da elite intelectual branca que, devido ao fetiche com o europeu, pretende ajuizar a cultura e a arte originária no Brasil a partir da história da arte e da cultura europeia e, mais recentemente, estadunidense O racismo não somente cerceia a liberdades dos sujeitos, mas também traz impedimentos para o desenvolvimento de outras habilidades, distintas daquelas relativas às funções braçais, que não lidam diretamente com o público. De acordo com os dados do IBGE (2018), acerca das “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, a população negra (pretos e pardos) corresponde à maior parcela da força produtiva no trabalho, ou seja, 57,7 milhões de pessoas em contraponto a 46,1 milhões de pessoas brancas. Contudo, a população negra concentra uma maior representação entre os desocupados, com 64,2%, e de subutilizados (desocupados, subocupados e a força de trabalho potencial) com 66,1% da força de trabalho brasileira.